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CORDÉLIA CANABRAVA ARRUDA
Cordélia Canabrava Arruda iniciou seus estudos de piano aos cinco anos de idade, com seu avô materno, o maestro Biagio Cimino, em Jabuticabal, SP. Em 1947 diplomou-se pianista, com louvor, pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde tinha como mestre de piano o ilustre Prof. Samuel Archanjo dos Santos.
No mesmo ano licenciou-se em Letras Anglo-Germânicas pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras "Sedes Sapientiae". Optou pelo magistério de Inglês, para grande pesar de seu mestre de piano. Casou-se cedo, teve filhos, dedicou-se à família, mas seu piano nunca foi abandonado. Fez curso de virtuosismo com o saudoso Prof. Hans Bruch e, posteriormente, com o emérito Prof. José Kliass, com o qual terminou seus estudos pianísticos e gravou uma série de programas para a TV Cultura de São Paulo, "Ouça Música Conosco", em 1970.
Somente em 1979 Cordélia conheceu Satie. Sentiu-se tão identificada com o compositor que resolveu estudar toda a sua obra pianística, bem como aprofundar-se no conhecimento do hoje famoso compositor francês. Foi a intérprete do primeiro disco de Satie lançado no Brasil e da primeira integral pianística mundial, concluída em 1986, em vinyl. Sua dedicação valeu-lhe o convite para ser a correspondente e representante da "Fondation Erik Satie", sediada em Paris. Tornou-se uma das maiores especialistas satistas, através de muito estudo e pesquisa.
Brasileira de São Paulo, foi a pioneira mundial a interpretar e gravar a obra pianística completa de Satie.
Representante e correspondente no Brasil da Fundação Erik Satie, com sede em Paris.
http://www.youtube.com/watch?v=2fdqJ5QI25k&feature=youtu.be
ARRUDA, Cordélia Canabrava. Poemas solitude. [ São Paulo, SP ] : Edição de Autor, s.d. 84 p. ilus. 30x29,5 cm. Dedicatória da
autora em 1994. Capa e ilustrações: Cristina Canabrava Arruda.
Ex. bibl. de Antonio Miranda
PESO
Fumaça.
A cabeça está
cheia de.
Leve;
Mas pesada
do esforço
de tentar
mantê-la
presa ao corpo.
Um descuido
e ela se solta,
flutua,
voa,
e se esborracha
no primeiro poste.
Cansada;
Muito.
Do esforço
de tentar
mantê-la
presa ao corpo.
Demais.
Por que
não soltar
a cabeça.
REGRESSÃO
Regrido no tempo e no espaço
contemplando os mares de Ubatuba.
Quero mergulhar no líquido amniótico
destas ondas mornas e tranquilas
e, de novo embrião e feto,
na segurança do útero materno,
esquecer-me das desventuras desta vida!
SER OU NÃO SER
Estou hoje sentindo
aquelas estranhas sensações
de querer ser não sei o quê.
Entrar num cabaré esfumaçado,
vestido dourado decotado,
piteira de metro,
cílios postiços,
sandálias de lamê,
rindo, rindo.,
sentar no colo
de todos os homens?
Ou é de ser menininha
de trança.
de mãos dadas
com o primeiro namorado?
Ou é de sumir
prá Sibéria,
pro Egito,
pro Afeganistão,
onde ninguém me conheça
e eu possa desligar-me de mim mesma
e perder-me por aí?
Ou é de voltar no tempo?
Voltar no espaço
Mudar de plano?
Ou é de querer ser outra pessoa
que não se assemelhe comigo
nem de longe?
Achar-me e ser?
Deixar talvez de ser?
Ilustração de Cordélia Canabrava Arruda.
PONTO FINAL
O mundo acabou.
Sem barulho e sem alarde.
Nada houve prenunciasse o fim.
Apenas,
simplesmente acabou.
E eu me vi só
no meio dos escombros,
vazia,
aparvalhada,
sem saber o que fazer
agora
que o mundo acabou
e eu sobrevivi.
*
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Página publicada em novembro de 2023 |